24 abr 2020
Alexandre Abrantes, André Vieira, Pedro Aguiar e Vasco Ricoca
Centro de Investigação em Saúde Pública
Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade NOVA de Lisboa
Um mês após a primeira morte registada por COVID-19 em Portugal, registaram-se 18 051 casos e 599 mortes por COVID-19, ou seja uma incidência cumulativa de cerca de 176 casos por 100,000 habitantes e uma letalidade de 3,3 %. Entre 16 de março e 14 de abril, registaram-se mais 1 255 óbitos do que o esperado, com base na mortalidade média diária durante os 10 anos anteriores. O excesso de óbitos ultrapassa frequentemente o limiar das médias dos últimos 10 anos mais 2 desvios padrão, especialmente na última semana de março e primeira de abril de 2020. O excesso de mortalidade afetou de forma desproporcionada as pessoas com mais de 75 anos: 1 030 óbitos acima do esperado para as pessoas com mais de 75 anos e só 64 óbitos acima do esperado para as pessoas entre os 65 e os 74 anos. Quarenta e nove porcentos (49%) do excesso de óbitos estimados foram registados como COVID-19, sendo outros 51% atribuídos a outras patologias. Durante o período em análise registou-se um nº de óbitos por causas externas (que inclui os acidentes de viação) muito inferior ao que seria de esperar com base nas médias dos últimos 10 anos. Esta redução deve ser resultado das severas limitações à mobilidade viária impostas pelas autoridades. Na segunda semana de abril registou-se uma redução sustentada do nº de óbitos por COVID-19 e o excesso de mortalidade quase desaparece.
Este estudo analisa o excesso de mortalidade em Portugal, desde o 16 de março até 14 de abril, com base nos registos de mortalidade diária dos últimos 10 anos. Comparou-se a mortalidade observada com a mortalidade esperada, com base na média dos anos anteriores, usando intervalos de confiança de 2 desvios padrão. Usou-se também um modelo ARIMA para estimar excesso de mortalidade no período de interesse.
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