COVID-19: Qual é o risco de ter doença grave, de ser internado, de precisar de cuidados intensivos ou de vir a morrer por COVID-19?

30 mai 2020

Vasco Ricoca Peixoto, André Vieira, Pedro Aguiar, Carlos Carvalho, Daniel Thomas, Alexandre Abrantes, Carla Nunes
Barómetro COVID-19, Escola Nacional de Saúde Pública

A idade é o maior fator de risco para que uma pessoa infetada com o vírus COVID-19 venha a ter doença grave, necessite de internamento, de cuidados intensivos ou venha a morrer, quando separamos o efeito da idade e das comorbilidades. O risco sobe de forma mais importante para as pessoas com mais de 60 anos e especialmente após os 70.

As pessoas com 70 a 79 anos que são infetadas por COVID-19 têm uma probabilidade de ser internadas numa unidade de cuidados intensivos que é 10,4 vezes superior à de uma pessoa com 0 a 50 anos. Se o doente tiver 80 a 89 anos tem uma probabilidade 5,7 vezes maior de necessitar de internamento num hospital do que se tiver entre 0 e 50 anos. Entre os 0 e os 50 anos 5,1% dos casos foram internados e 0,26% foram admitidos em cuidado intensivos e 0,04% morreram.

Após isolar o impacto da idade, o risco de morte por COVID-19 é 112x maior entre os 70 e o 79 anos do que o risco daqueles que têm menos de 50 anos. Dos 0 aos 50 anos morreram 4 pessoas em 9675 casos reportados (0,04%), entre os 70-79 morreram 6,4% e entre os doentes com mais e 90 morreram 12,85%. Estes valores não têm em consideração o número de casos ligeiros e assintomáticos que não terão sido detectados, pelo que os riscos apresentados podem estar subestimados, especialmente em faixas etárias em que possa existir maior percentagem de casos ligeiros e assintomáticos.

O fato de a pessoa infetada por COVID-19 ter outras doenças aumenta o risco de o doente vir a necessitar de internamento, cuidados intensivos ou vir a morrer da infeção, mas as comorbilidades isoladamente têm riscos bastante inferiores ao da idade avançada o que significa que uma pessoa com doença crónica em faixas etárias mais baixas apresenta um acréscimo de risco mais moderado. A deficiências imunitárias, as doenças cardíacas, renais e pulmonares, e as neurológicas são fatores de risco, independentemente da idade do doente. As pessoas com imunodeficiência têm probabilidade 1,8 maior de precisarem de internamento, os doentes cardíacos têm uma probabilidade 4 vezes maior de necessitar de cuidados intensivos e os doentes renais têm uma probabilidade de morrer que é 3 vezes superior à dos outros doentes com COVID-19 e que não têm qualquer comorbilidade.

A asma não se apresentou como fator de risco relevante para nenhum desfecho nos dados analisados e em outros estudos poderá ser fator de risco apenas se grave ou descompensada. Isoladamente e em idades menos avançadas, a diabetes, doença hepática e hematológica parecem ser fatores de risco menos importantes para a morte após ajustamento para a idade. O cancro, a doenças hepáticas, hematológicas e neurológicas têm associações mais fracas ao internamento em cuidados intensivos.

De uma forma geral os homens têm formas mais graves de COVID-19 do que as mulheres.

Estes resultados sugerem que a estratégia de controle da COVID-19 deve assentar na tentativa de reduzir o nº de casos graves e de óbitos. Para isso, será importante reforçar medidas que evitem que o vírus infete as pessoas com mais de 70 anos. A vigilância epidemiológica apertada de centros de dia, lares e outras unidades de cuidados continuados é parte de uma forma eficiente de atingir este objetivo e tem sido promovida nas últimas semanas.

Este estudo analisou dados da DGS de um coorte de cerca de 20.000 casos de COVID-19 confirmados, até 28 de abril de 2020. Calcularam-se os riscos absolutos, relativos e relativos ajustados de os infetados serem internados num hospital, em cuidados intensivos e de morrerem, através de uma regressão de Poisson. Foram analisadas variáveis demográficas e doenças crónicas.

*Artigo publicado no Público

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