15 jun 2020
Chrysi Rapanta
Investigadora do Instituto de Filosofia da NOVA (IFILNOVA)
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade NOVA de Lisboa
O ensino online é um tipo de ensino e aprendizagem no qual 1) o aluno está à distância do professor/instrutor, 2) o aluno usa algum tipo de tecnologia para ter acesso aos materiais de ensino, 3) o aluno usa tecnologia para interagir com o professor/instrutor e com outros alunos e 4) é dado algum tipo de apoio aos alunos. Grande parte do ensino e da aprendizagem num ambiente online é semelhante ao ensino e aprendizagem em qualquer outro contexto formal de educação. “O efeito disseminado do meio online cria, no entanto, um ambiente único” baseado na “capacidade de mudar o tempo e o espaço da interacção educacional” (Anderson, 2011, p. 344).
Para a criação de um tal ambiente de aprendizagem único, é fundamental que exista organização e desenho pedagócico/instrucional (Kali, Goodyear, & Markauskaite, 2011). A situação atual (a crise de COVID-19) tem levado as instituições de ensino a aplicar um aparente modelo de ensino online quando, na verdade, o que está a ser aplicado é um modelo de emergência que não se baseia nos princípios de educação online. É crucial garantir que os educadores online têm o CPC necessário para assegurar a qualidade de ensino. Investir tempo e recursos na planificação do curso, sobretudo em ambiente online, irá não apenas garantir a coerência de toda a formação como também assegurar que os princípios da abordagem digital são considerados. Aprender a elaborar um desenho (instrucional) para a realização de cursos online nunca foi tão importante como agora.
A solicitação urgente para “passar para online” veio acrescentar um significativo stress e sobrecarga ao já difícil trabalho e esforço que os docentes universitários têm de fazer para equilibrar ensino, investigação e trabalho administrativo, para não mencionar o equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho. Professores de todas as áreas disciplinares e idades têm sido obrigados a preparar e a dar aulas a partir de casa, com todas as implicações práticas e técnicas que isso possa ter, e muitas vezes, sem assistência técnica no local. O maior desafio para os professores universitários tem sido, acima de tudo, a falta de Conhecimento Pedagógico de Conteúdo (CPC, do inglês Pedagogical Content Knowledge ou PCK) no que concerne ao ensino online, quando comparado com o ensino presencial.
Tal CPC inclui não apenas aspetos técnicos do ensino à distância (como, por exemplo, a utilização de plataformas e ferramentas) e administrativos (por exemplo, a gestão do fluxo de trabalho) como também, e sobretudo, os fundamentos e princípios pedagógicos sobre o que é necessário para se ser um professor online.
Uma parte do conhecimento pedagógico necessário para o ensino online é a elaboração cuidadosa de um plano de atividades. De acordo com Carr‐Chellman e Duchastel (2000), “a essência de um curso online é a organização de atividades de ensino que permitam que o estudante alcance certos resultados educativos” (p. 233). Estas atividades ou tarefas devem ser baseadas numa combinação de abordagens (síncronas, assíncronas, online, offline), devem ser descritas e comunicadas de forma clara e precisa, devem ter um nível de dificuldade adequado às capacidades e expetativas dos estudantes, devem estar relacionadas com contextos autênticos, de modo a aumentar o envolvimento dos alunos, e ser acessíveis a todos tendo em conta vários aspetos práticos como, por exemplo, a existência de uma ligação estável à internet e o acesso aos recursos digitais.
Com o objetivo de avaliar os componentes específicos que a planificação e a realização de atividades de ensino online requerem, um painel de especialistas foi organizado pela Dra. Chrysi Rapanta (IFILNOVA, NOVA FCSH). Os quatro especialistas convidados, cujas competências teóricas e práticas na pedagogia do ensino e aprendizagem online são reconhecidas, representam diferentes regiões geográficas (Europa Central, Europa do Sul, Canadá e Austrália). Foram colocadas as seguintes questões:
- Em que aspetos é que a planificação e realização de aulas online é diferente do ensino e da aprendizagem presenciais?
- O que é que, no seu entender, torna o ensino e aprendizagem online bem sucedidos?
- O que é que diria a colegas que não são especialistas e que usam, no ensino online, uma abordagem baseada em materiais, por exemplo, enviando e solicitando materiais aos alunos?
- O que é que diria a colegas cuja abordagem de ensino online é baseada em ferramentas, isto é, que consideram que dar aulas online é o mesmo quee usar uma ferramenta de videoconferência?
- Quais as formas eficazes de monitorizar o envolvimento e a aprendizagem dos estudantes durante os cursos online? Como é que isto pode contribuir para a avaliação?
Os principais temas e relações que resultaram do painel estão representados na Figura abaixo.
Bibliografia:
Anderson, T. (2011). Towards a theory of online learning. In T. Anderson (Ed.), The theory and practice of online learning (2nd ed.) (pp. 45–74). Edmonton, AB: Athabasca University Press.
Carr‐Chellman, A., & Duchastel, P. (2000). The ideal online course. British Journal of Educational Technology, 31(3), 229–241.
Kali, Y., Goodyear, P., & Markauskaite, L. (2011). Researching design practices and design cognition: Contexts, experiences and pedagogical knowledge‐in‐pieces. Learning, Media and Technology, 36(2), 129–149.
Versão completa do estudo disponível no ResearchGate (ver aqui)
Rapanta, C., Botturi, L., Goodyear, P., Guàrdia, L., & Koole, M. (accepted). Online University Teaching During and After the COVID-19 Crisis: Refocusing Teacher Presence and Learning Activity. Postdigital Science and Education.
Agradecimento
“Queria agradecer à Gestora de Ciência do IFILNOVA, Catarina Barros, pela sua assistência na tradução deste texto para Português.