16 fev 2021
Jaime C. Branco
Médico Reumatologista
Diretor da NOVA Medical School | Faculdade de Ciências Médicas da Universidade NOVA de Lisboa
As principais causas das doenças humanas mais prevalentes dependem hoje mais dos comportamentos individuais dos cidadãos do que de qualquer outra condicionante conhecida. Como sabemos, isto é verdadeiro sobretudo para a generalidade das doenças crónicas não transmissíveis, mas também para várias doenças infectocontagiosas, nomeadamente de origem viral.
A promoção da Saúde e a prevenção da doença são necessidades sociais, económicas, sanitárias e políticas crescentes, considerando as naturais limitações da medicina curativa e os seus avultados e progressivos custos.
A Educação para a Saúde é o mais importante veículo para a promoção da saúde global das populações. Na definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), a Educação para a Saúde inclui todas as ações e eventos concebidos e realizados com o objetivo de melhorar a literacia em saúde e de desenvolver as aptidões que habilitem os cidadãos para a prática de um conjunto de atitudes que conduzem à Saúde da comunidade em geral e de cada um de nós em particular.
Ainda segundo a OMS, a Educação para a Saúde deve capacitar cada cidadão, desde a idade escolar, para cuidar da sua Saúde e da dos outros, sobretudo os mais frágeis e dependentes, tomando decisões e criando condições que conduzam à manutenção da Saúde e à prevenção das principais causas de doença e incapacidade durante as várias fases e circunstâncias da vida.
A covid-19 é um bom exemplo, dolorosamente prático, para avaliar estes princípios, considerando que do estado de saúde (leia-se, não infeção) de cada um de nós depende o estado de saúde de todos os que nos rodeiam e com quem convivemos.
O que a grave situação pandémica revela hoje em Portugal é uma enorme carência de conhecimento e uma importante desadequação de comportamentos da nossa população, em relação à ameaça viral. As causas são muitas e variadas, mas traduzem a forma pouco atenta e empenhada como, entre nós, a Educação para a Saúde foi encarada nas últimas décadas.
Com efeito, a população em geral, mesmo as suas camadas mais ‘instruídas’ e os seus estratos mais ‘responsáveis’, não tem demonstrado a devida sensibilidade e a destreza adequada para lidar com o carater contagioso da covid-19, explicando, assim, em boa medida, a falência das medidas preventivas de proteção individual e coletiva recomendadas pelas Autoridades.
Esta inaptidão é um déficite transversal devido à desatenção continuada que os responsáveis pelo Ensino – do pré-escolar ao universitário – e pela Saúde tiveram acerca da literacia em Saúde dos portugueses.
Para que a pessoa individual e a população como um todo tomem decisões corretas e conscientes em Saúde, estas têm de ser fundamentadas por conhecimentos seguros, orientadas por competências adequadas e inspiradas por um genuíno sentimento cívico.
A Saúde é um bem maior e tem de ser considerada um valor humano positivo pela comunidade. Temos, de uma vez por todas, de olhar a Saúde como um justo direito, que é, sobretudo, um sensível dever.
*Artigo publicado no Público