27 mai 2020
Pedro Pita Barros
Professor Catedrático da Nova SBE, Universidade NOVA de Lisboa
No post sobre o programa Gabinete de Crise da semana passada, referi que 94% dos inquiridos em Portugal numa sondagem internacional indicou seguir as noticias sobre a COVID-19 pela televisão.
Este valor está em linha com o encontrado na amostra de conveniência de acompanhamento da evolução de como a população portuguesa está a lidar com a pandemia e com as medidas que são tomadas, que tem os seus resultados todas as semanas divulgados na Visão (ver aqui sobre as principais fontes de informação).
Uma das perguntas colocadas foi “Quais as principais fontes onde obtém informações sobre a COVID-19?”, dando 7 respostas possíveis: televisão, pesquisa na internet, redes sociais, jornais, parentes e amigos, outras fontes, não seguir. Era possível indicar múltiplas respostas. Um primeiro indicador resultante desta pergunta é o número médio de fontes de informação consultadas, por país. E neste resultado, Portugal aparece como sendo o país onde as pessoas usam mais fontes de informação, entre duas e três, de forma quase igual em termos percentuais, e com um valor de médio de 2,6 fontes de informação.

Somos, neste contexto, uns amplos consumidores de informação sobre a COVID-19. A pergunta seguinte é saber quais são as principais fontes de informação e se diferem substancialmente entre países. A resposta resultante é que somos muito uniformes na Europa, a televisão é o meio mais indicado pelas pessoas para obter informação, seguido das buscas na internet e só depois as redes sociais (que mesmo assim são em geral mais referidas que os jornais e os familiares e amigos). Portugal é o país que mais usa TV, internet e redes sociais. Não há propriamente uma substituição de uns meios de informação por outros, e sim uma utilização mais intensiva de todos nuns países face aos outros.

Por fim, e olhando apenas para Portugal, podemos ver como é a utilização por grupo etário. A principal conclusão é que todos os grupos etários utilizam mais a televisão do que qualquer outro meio. E todos os grupos etários usam em segundo lugar as buscas na internet, ligeiramente mais em quem tem menos de 34 anos, mas mesmo assim nenhum grupo etário está abaixo dos 50% – pelo menos metade das pessoas nesse grupo etário indica utilizar a internet. Nas redes sociais, encontra-se uma diferença maior entre idades no uso, com os mais novos a utilizarem mais frequentemente.

Agora, um pouco da história deste inquérito europeu, que teve como ponto de partida a Iryna Sabat, a Nirosha Varghese e o Sebastian Neumann-Boehme, todos a realizarem o seu doutoramento, integrados na European Training Network “Improving Quality of Care in Europe”. No inicio de Fevereiro, a COVID-19 ainda era uma doença na China, com noticias distantes e alguns mitos à mistura. O tema das reflexões para o doutoramento ainda estava centrado em perceber melhor o que leva algumas pessoas a hesitar tomar vacinas, com diferenças grandes entre os países europeus, como tem sido documentado em vários relatórios. Nesse contexto surgiu a ideia (proposta por Iryna primeiro, e depois em colaboração com Nirosha, grupo a que se junta depois Sebastian) de que discutir o tomar uma eventual vacina contra o novo coronavirus era um contexto ideal para melhor compreender as decisões das pessoas – a doença era real, ainda que distante, ninguém estava vacinado porque não há vacinada, era uma doença bem coberta nas notícias. Fornecia por isso, nesse momento, um contexto ideal para estudar as percepções de risco e de decisão de vacinar, mais do que os cenários de “doença hipotética – vacina hipotética” de estudos anteriores. Das discussões de operacionalização do estudo, envolvendo também Job von Exel e Werner Brouwer (da Universidade Eramus de Roterdão), passou-se à ideia de ser um inquérito europeu. Na construção do financiamento do mesmo, entram ativamente Jonas Schreyögg e Tom Stargardt (do Centro de Estudos de Economia da Saúde da Universidade de Hamburgo), com alguma capacidade de financiamento. A ideia desta sondagem europeia chega então ao Governo alemão, que se dispôs a financiar três vagas do mesmo, do qual a primeira se encontra realizada. A participação portuguesa ficou assegurada por financiamento da Chair BPI | Fundação “La Caixa” in Health Economics (presente na Nova School of Business and Economics).
Enquanto este processo de construção do inquérito e seu financiamento decorria, o coronavirus rapidamente chegou à Europa. A informação sobre a COVID-19, como se espalhava e que implicações estava a ter, estava constantemente a mudar e a ser atualizada. Mitos que se transformavam em factos, factos que afinal não passavam de mitos. Tudo obrigava a ajustar as perguntas do questionário, que se só estabilizaram na semana anterior ao trabalho de campo, de recolha da informação por parte de uma empresa especializada, a operar nos 7 países que se decidiu incluir, e que cobrem essencialmente os países europeus que estão representados na ETN IQCE – Alemanha, Dinamarca, França, Itália, Países Baixos, Portugal e Reino Unido. No caso de Itália, optou-se por destacar a região da Lombardia, com uma amostra própria, por ter sido a zona que sofreu o maior embate inicial da COVID-19. Desta colaboração internacional envolvendo pessoas da ETN, gerou-se um questionário traduzido e verificado para cada lingua nacional. São os resultados deste esforço de colaboração europeia, por impulso do lado da Nova School of Business and Economics da Iryna Sabat, que se irá reportando ao longo das próximas semanas.
*Artigo publicado no blogue Momentos Económicos